terça-feira, 7 de junho de 2011

Uma gota de Mel ganha formato de espectáculo

UMA GOTA DE MEL, começou a revelar-se, para os alunos/reclusos/actores, uma necessidade. Cada leitura revela mais descobertas e surge a vontade de o transformar em espectáculo no formato de exercício teatral. Mais leituras, novas interpretações, novas pistas e a descoberta de coisas de grande importância, que estão para lá do próprio texto. O exercício de criação do espectáculo aguça o apetite para ensaios de maior duração e mais vezes por semana, e a marcação de uma data para a estreia mobiliza toda a energia. Todos vão dando ideias sobre a música a inserir, sobre a cenografia e os figurinos. O convite para participar no CORPO EVENTO, do ESPAÇO T, é honroso mas de grande responsabilidade. O exercício de limpeza do que vai estando a a mais prossegue e o que começou por ser uma leitura desinteressada, revela-se agora algo de mágico.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Uma das ferramentas de trabalho, que se revelam de maior utilidade (e refiro, surpreendente, é a poesia. Digo surpreendente, porquanto numa comunidade sem hábitos de leitura e em particular de poesia, a constatação de tal facto é deveras curioso e interessante. Aquando da leitura e trabalho de dramaturgia de UMA GOTA DE MEL, a primeira impressão que lhes ficou, foi a esperada: um encolher de ombros e a ideia de que o texto era demasiado infantil, desprovido de interesse para eles. Depois trabalhou-se o texto com uma leitura mais «olhos nos olhos», mais intimista, mais para dentro de cada um. A partir de várias leituras e explicações, avivaram-se as pontes do texto para a realidade geral e a pessoal. Então, o resultado foi um manifesto entendimento e aceitação, de que: "as grandes tragédias pessoais ou colectivas podem começar pela mais ínfima das coisas, até mesmo uma gota de mel doce que as abelhas foram colher a umas flores belas e frescas".Eles começaram a entender e a aceitar que de facto, UMA GOTA DE MEL, trata, parte, ou em alguns casos, a vida de cada um no seu todo. De facto, eles sabem melhor que ninguém que foi um gesto ínfimo que determinou a sua tragédia. Recordo que a esmagadora maioria dos alunos/reclusos/actores, tem como base da sua pena, a relação com estupefacientes.
Portanto , o estabelecimento de pontes para a realidade de cada um, através de um texto poético, revelou-se um instrumento de trabalho fantástico, e refiro de novo, surpreendente.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"A ORDEM SEM ORDEM"

A reflexão que venho partilhando, totalmente impírica, e tal como qualquer processo de trabalho em que o ritmo "não é determinado", mas "vai sendo determinado", a ordem dos conceitos é como a sementeira à mão; umas sementes vão para aqui, outras para ali, outras saem até da terra preparada para a receber, outras o vento leva-as para outro lugar, mas no fim, e quando a força da terra o determina, tudo nasce e se ordena. Portanto, às vezes volto ao já dito, depois vou lá para a frente, regresso onde estava, etc.
De facto, o trabalho realizado neste contexto, não obedece - e porventura ainda bem que assim é, designadamente porque abranda o ritmo por vezes alucinante do dia a dia - às regras que determinam a produção de um projecto, artístico, no caso. O interessante, e acontece amiúde, é que, na ausência desse ritmo, acontecem as coisas mais frutuosos e extraordinárias, como que a dizer-nos que o mais importante, pode não ser o produto final, mas umas quantas pequeníssimas coisas que se nos apresentam com frequência. Quantas vezes por entre um cigarro que se enrola, surgem os filhos e até os netos, as memórias da guerra ou as viagens e aventuras mais espantosas. Nessa partilha acontecem as mais notáveis improvizações e aqueles momentos da inspiração mais sublimes. Só depois reparamos que o que aconteceu não foi "o ensaio", mas "um ensaio", e sempre que assim acontece o tempo passa bem mais depressa. Registe-se que estes ensaios são os que verdadeiramente preparam o trabalho final.
Volto à leitura de O REI IMAGINÁRIO do Raúl Brandão e depois a: UMA GOTA DE MEL, de Leon Chancerel. Se no primeiro a história anda em redor de um magistrado que, tal como o mais comum dos cidadãos, se viu envolvido nas teias da justiça, e vai pagar por isso, no segundo, eles são confrontados com a mais perturbadora prova que a mais dramática experiencia humana começa - pode começar - pelo gesto mais inocente. O encontro com este poema fascinante de Chancerel, dá-lhes a oportunidade de se confrontarem com a sua própria experiência. Eles sabem muito bem do que se trata. Esta como que autobiografia, leva alguns a partilharem até o motivo de estarem ali. Não existe acontecimento mais extraordunário que este do teatro: a catarse. Uma contrição. No final de um desses "ensaios" alguém dizia: "obrigado, a porta da cela começa a ficar de cada vez mais aberta apesar de rodada a chave da fechadura"
De novo lá para o princípio: "a diferença entre a prisão e a liberdade é o tamanho do pátio".
Finalmente, por hoje, a PEDRA FILOSOFAL, do Gedeão, aquela coisa do sonho, não é verdade? Foi pretexto não para um ensaio, mas para um "daqueles ensaios".

Projecto «segundo S. Mateus»

"Estava com fome e deram-me de comer. Estava com sede e deram-me de beber. Era estrangeiro e receberam-me. Estava sem roupa e vestiram-me e cuidaram de mim. Estava na cadeia e visitaram-me". (S. Mateus 25.35.6)

O objectivo do trabalho a fazer é produzir, na sua primeira fase, um espectáculo de teatro dentro da cadeia, para, com isso, acrescentar valor na confiança e auto-estima num conjunto de reclusos/alunos, e centra-se, para além de trabalhar a auto-estima pessoal e colectiva dos reclusos/alunos, no reforço de:
- A importância para a comunidade reclusa de exemplos de “boas práticas pedagógicas e artísticas”
- Sensibilizar os serviços prisionais, designadamente: (direcção, corpo de guardas, serviços sociais, professores, etc) para o interesse destes trabalhos dentro do estabelecimento e a sua visibilidade.
- Decorrente daquela visibilidade, sensibilizar também a comunidade civil para a criação de pontes concretas para posterior reintegração.
Portanto é um trabalho feito “dentro”, que se pretende ter repercussões “fora”

Tal como na esmagadora maioria das prisões, a vivência da comunidade reclusa reveste-se de características particulares, algumas da maior sensibilidade e até dramatismo.
São pessoas – homens – que por motivos diverso, com maior incidência para o consumo e tráfico de estupefacientes, desaguaram ali, para cumprir pena. Provenientes de todas as classes sociais, com maior incidência para camadas socialmente mais carenciadas um pouco de todo o país, mas também de diversos países da América do Sul, de África e da Europa do Leste.
Com o fim das penas muitas vezes muito longínquo, e com os laços familiares debilitados ou mesmo cortados, os reclusos perdem a pouca estruturação que possuíam, e entram num processo de degradação pessoal muitas vezes irreversível. Noutros casos, integram-se em grupos, que «dominam» o ambiente prisional. Violência individual ou de grupos, consumo de drogas, inactividade física e intelectual, abandono, doenças, etc, determinam o tempo que passam ali. Detecta-se facilmente que a perda da auto estima é determinante para a regressão e supressão dos frágeis valores que ainda possuíam, e portanto, porta aberta para a degradação total.

Nas prisões em que existem pólos de escolas secundárias, observamos homens que - desde o primeiro ciclo ao ensino superior - se recusam a perder tudo, e ao invés tentam, pelo estudo, reagir à adversidade e até mesmo ao «sistema» prisional. Partindo da realidade e actividade escolar, parece que existe uma solução relativa - sempre relativa - para o problema, que reside num somar de atitudes e esforços que reforcem o empenho dos reclusos/alunos. Acrescentar e elevar a auto estima de cada um. Abrir portas e janelas para o exterior. Para a esperança. Portanto, a auto estima como alavanca. A vontade manifestada por todos para trabalhar. Proporcionar a oportunidade de construir algo que lhes acrescente, valor, confiança e estima e que possam apresentar e partilhar esse trabalho para que se constitua como referência a seguir.

No processo de construção do projecto importa cruzar vários tipos de informação para aclarar as questões mais pertinentes do caminho a percorrer.
O primeiro passo é ouvir os “parceiros”, os alunos/reclusos; professores; serviços de apoio social e psicológico; corpo de guardas e direcção do estabelecimento prisional. Ultrapassadas as sempre pesadas questões burocráticas, é determinante sentir como a ideia do projecto "bate" nos destinatários.
Uma reunião é sempre pouco. Fica mais curiosidade que qualquer outra coisa. Depois a selecção acaba por ser natural e para isso contribui algum avivência ou mesmo experiência por parte de alguns.
Depois e derrubadas algumas barreiras, instala-se o informalismo suficiente e a conversa deambula por áreas, já do interesse pessoal, com alguma incidência na componente artística e cultural. Relataram-se experiências ao nível do teatro, artes plásticas, música e até poesia. A primeira triagem acontece naturalmente. Os vários níveis de auto confiança, auto valorização e auto conceito de cada um começam a observar-se.
Importante a troca de impressões com o corpo docente, onde o interesse é obviamente grande, do que resulta também uma radiografia dos alunos/reclusos, designadamente: os índices de organização mental de cada um: coeficiente cognitivo, responsabilidade, empenho, atitude perante o professor e colegas, ou seja na concretização dos objectivos escolares. Foi uma recolha de informações muito positiva e determinante.
Os responsáveis dos serviços de apoio social e psicológico, forneceram informações sobretudo das ligações e, ou, falta delas com o exterior, mormente a família e amigos, e ainda das fragilidades pessoais, ao nível patológico e de personalidade. -
Nota: Importa aqui recordar dois aspectos que considero da maior importância e que são determinantes para o sucesso do trabalho. Desde logo o cuidado colocado no tipo de linguagem e estilo de comunicação tida com os reclusos/alunos. É fundamental que o nível de quem escuta e quem comunica seja idêntico, mesmo que isso signifique, e significou, cedências diversas, mormente linguísticas significativas. Depois, demonstrar que o produto do trabalho ao ser apresentado para a comunidade civil, portanto no exterior da cadeia, constituir uma grande oportunidade de mostrarem que, apesar da circunstancia de estarem presos, são homens a quem é devida a esperança e oportunidade.
Reclusos/alunos
Estava a chegar a hora dos:
Reclusos/alunos/ACTORES

domingo, 24 de abril de 2011

O teatro como ferramenta de liberdade
Como disse Jessica Kaahwa, (...)"para que o teatro prospere, devemos dar um passo firme no futuro, incorporando-o na vida quotidiana" (...)
Ora também, direi, sobretudo, no contexto prisional, a prática teatral constitui uma excelente ferramenta para a conquista da liberdade, e da auto estima perdida.
Há sempre uma nesga de sol.
Recordando Manuel Bandeira
VIRGEM MARIA
O oficial do registo civil, o colector de impostos, o mordomo da Santa Casa e o administrador do cemitério de S. joão Baptista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renuncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As tábuas da lei
Mas de lá de dentro do fundo da treva da cova
eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer insistentemente
Que fazia sol lá fora

Uma das ferramentas mais importantes no processo de aprendizagem teatral, é, quanto a mim, a Poesia. A possibilidade que nos dá de observar, criar e recriar os valores semântico e sonora das palavras.
Como disse Manuel António Pina: "dizer Poesia é um modo de escrever Poesia"
Segui-se depois de O REI IMAGINÁRIO de Raul Brandão, a leitura e discussão de O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO do Vinicius de Morais.

Mensagem do DIA MUNDIAL DO TEATRO, 2011

DIA MUNDIAL DO TEATRO 2011


"O TEATRO A SERVIÇO DA HUMANIDADE
por Jessica Atwooki Kaahwa

Este é o momento exacto para uma reflexão sobre o imenso potencial que o Teatro tem para mobilizar as comunidades e criar pontes entre as suas diferenças.
Já, alguma vez, imaginaram que o Teatro pode ser uma ferramenta poderosa para a reconciliação e para a paz mundial?
Enquanto as nações consomem enormes quantidades de dinheiro em missões de paz nas mais diversas áreas de conflitos violentos no mundo, dá-se pouca atenção ao Teatro como alternativa para a mediação e transformação de conflitos. Como podem todos os cidadãos da Terra alcançar a paz universal quando os instrumentos que se deveriam usar para tal são, aparentemente, usados para adquirir poderes externos e repressores?
O Teatro, subtilmente, permeia a alma do Homem dominado pelo medo e desconfiança, alterando a imagem que têm de si mesmos e abrindo um mundo de alternativas para o indivíduo e, por consequência, para a comunidade. Ele pode dar um sentido à realidade de hoje, evitando um futuro incerto.
O Teatro pode intervir de forma simples e directa na política. Ao ser incluído, o Teatro pode conter experiências capazes de transcender conceitos falsos e pré-concebidos.

Além disso, o Teatro é um meio, comprovado, para defender e apresentar ideias que sustentamos colectivamente e que, por elas, teremos de lutar quando são violadas. Na previsão de um futuro de paz, deveremos começar por usar meios pacíficos na procura de nos compreendermos melhor, de nos respeitarmos e de reconhecer as contribuições de cada ser humano no processo do caminho da paz. O Teatro é uma linguagem universal, através da qual podemos usar mensagens de paz e de reconciliação. Com o envolvimento ativo de todos os participantes, o Teatro pode fazer com que muitas consciências reconstruam os seus conceitos pré-estabelecidos e, desta forma, dê ao indivíduo a oportunidade de renascer para fazer escolhas baseadas no conhecimento e nas realidades redescobertas.
Para que o Teatro prospere entre as outras formas de arte, deveremos dar um passo firme no futuro, incorporando-o na vida quotidiana, através da abordagem de questões prementes de conflito e de paz.
Na procura da transformação social e na reforma das comunidades, o Teatro já se manifesta em zonas devastadas pela guerra, entre comunidades que sofrem com a pobreza ou com a doença crónica. Existe um número crescente de casos de sucesso onde o Teatro conseguiu mobilizar públicos para promover a consciencialização no apoio às vítimas de traumas pós-guerra.
Faz sentido existirem plataformas culturais, como o [ITI] Instituto Internacional de Teatro, que visam consolidar a paz e a amizade entre as nações. Conhecendo o poder que o Teatro tem é, então, uma farsa manter o silêncio em tempos como este e deixar que sejam “guardiães” da paz no nosso mundo os que empunham armas e lançam bombas. Como podem os instrumentos de alienação serem, ao mesmo tempo instrumentos de paz e reconciliação?
Exorto-vos, neste Dia Mundial do Teatro, a pensar nesta perspectiva e a divulgar o Teatro, como uma ferramenta universal de diálogo, para a transformação social e para a reforma das comunidades.
Enquanto as Nações Unidas gastam somas colossais em missões de paz com o uso de armas por todo o mundo, o Teatro é uma alternativa espontânea e humana, menos dispendiosa e muito mais potente.
Não será a única forma de conseguir a paz, mas o Teatro, certamente, deverá ser utilizado como uma ferramenta eficaz nas missões de paz."











Jessica Atwooki Kaahwa, é professora dos Departamentos de Música, Dança e Teatro da Universidade de Makerere, em Uganda.
Grande defensora dos direitos humanos, Jessica Kaahwa implacavelmente levanta a voz para a igualdade de género, paz e conflito de comunicação. Ela também tem orquestrado várias iniciativas nacionais e internacionais utilizando o teatro para o desenvolvimento humano e continua a sua pesquisa sobre as múltiplas aplicações de teatro em todas as facetas da sociedade. Kaahwa é adepta do "ensinar fazendo". As suas acções humanitárias também incluem a criação de um centro para crianças órfãs na sua fazenda no Uganda, que lhes permita recuperar os sentimentos de auto-estima e segurança.

Auto estima

Depois de algumas, e breves, considerações de carácter geral, importa referir o factor comum a todos os alunos/reclusos: ausência de auto estima.
A expressão «Auto Estima» ouve-se com frequência nos mais diferentes contextos, apontando, no entanto, sempre para o mesmo sentido. Ausência de algo importante na vida de cada um.

Como disse Nathaniel Braden (1930 psicoterapeuta canadiano, cuja obra trata os temas de auto-ajuda, auto-confiança e o que esta determina na saúde mental do indivíduo), a auto-estima assenta, designadamente em seis pilares:
. Atitudes de viver conscientemente
. Auto-aceitação
. Responsabilidade
. Afirmação
. Intencionalidade e
. Integração pessoal».
Ou seja, a base da auto estima assenta na confiança nas nossas capacidades para pensar e enfrentar os desafios; confiança no direito de cada um ao seu quinhão de felicidade; o sentir-se útil e competente, digno, autónomo e qualificado para expressar e satisfazer as suas necessidades e desfrutar as realizações por mais humildes que sejam, e pode definir-se como a opinião que cada um tem acerca de si (auto-conceito), ao qual se junta o valor ou sentimento que se tem de si mesmo (amor próprio, auto-valorização), somando os demais comportamentos e pensamentos que demonstrem a confiança, segurança e valor que o indivíduo dá a si (auto-confiança), nas relações e interacções com outras pessoas e com o mundo. Assim, não estamos a falar apenas de um sentimento que temos por nós mesmos, mas de pensamentos e comportamentos que temos relacionados com nós mesmos. A ausência de auto estima, manifesta-se, designadamente por: fragilidade perante a crítica; rejeição; humilhação; abandono; .desvalorização e perdas importantes.
Para José António Alcântara, “A auto estima é uma atitude para consigo próprio”
Questão pertinente é saber se, porventura, a auto estima é algo de inato, que se «traz» ou se, por motivos diversos, se adquire. Daqui se pode aferir de alguma base comum entre os reclusos/alunos. O mesmo autor afirma: “não; é adquirida e ocorre como resultado da história de cada pessoa”.
Mas o que é uma prisão, afinal, para além do conceito comum?
É um espaço institucional da justiça moderna, arquitectado de forma a acolher pessoas condenadas pelos tribunais a cumprir tratamentos penitenciários, pessoas a quem foi decretada judicialmente uma medida de privação de liberdade para efeitos preventivos antes de julgamento ou pessoas detidas e retidas às ordens de forças policiais ou militares. E por oposição o que é a liberdade?
Para Jean Paul Sartre (filósofo e escritor francês 1905-1980), “a liberdade é a condição ontológica do ser humano”. Spinozza, (filósofo holandês 1632-1677), por seu lado referiu que: “associada à liberdade, está também a noção de responsabilidade, já que o acto de ser livre implica assumir o conjunto dos nossos actos e saber responder por eles”. Questão pertinente que tem que ver com a integração de um indivíduo numa comunidade ou a sua reintegração quando sai da prisão? Então o que é a socialização: É o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. É um processo contínuo que nunca se dá por terminado, realizando-se através da comunicação, sendo inicialmente pela "imitação" para se tornar mais sociável. O processo de socialização inicia-se, contudo, após o nascimento, e através, primeiramente, da família ou outros agentes próximos, da escola, dos meios de comunicação de massas e dos grupos de referência. A socialização é, portanto, um processo fundamental, não apenas para a integração do indivíduo na sua sociedade, mas também, para a continuidade dos sistemas sociais. É o processo de integração do indivíduo numa sociedade, apropriando comportamentos e atitudes, modelando-os por valores, crenças, normas dessa mesma culturas em que o indivíduo se insere. Tem duas variantes: socialização primária: onde a criança aprende e interioriza a linguagem, as regras básicas da sociedade, a moral e os modelos comportamentais do grupo a que se pertence. A socialização primária tem um valor primordial para o indivíduo e deixa marcas muito profundas em toda a sua vida, já que é aí que se constrói o primeiro mundo do indivíduo e socialização secundária: todo e qualquer processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos sectores do mundo objectivo da sua sociedade (na escola, nos grupos de amigos, no trabalho, nas actividades dos países para os quais visita ou emigra etc.), existindo uma aprendizagem das expectativas que a sociedade ou o grupo depositam no indivíduo relativamente ao seu desempenho. A resocialização e reintegração serão a mesma coisa? A reintegração social é definida como qualquer intervenção na sociedade com o objectivo de integrar as vítimas de exclusão social presentes numa comunidade, assentes nos três pilares fundamentais dessa reintegração social, que são: habitação, educação e o emprego (incluindo a formação profissional). Também podem ser utilizadas outras medidas, como o aconselhamento e as actividades de lazer.
Bibliografia:
Alcântara, José antónio - Como Educar a Auto Estima - Lisboa, ed. Plátano, 1998